sou do tempo da VHS

























Sou do tempo da VHS, a cassete que era preciso rebobinar para repetir a sessão do filme. O som e a velocidade ainda estão na minha memória. Uma espécie de avião quando se prepara para descolar, mas numa escala inferior. A verdade é que as minhas VHS faziam viagens. Para a frente e para trás... Para a frente e para trás. Às vezes dava a sensação que iam rebentar. Mas não! Continuam todas no armário dos meus pais. De um lado as de caixa rija, aquelas que vinham do Pão de Açúcar de Almada quando as compras corriam bem. Do lado esquerdo arrumavam-se aquelas compradas em série: as graváveis. Um bocadinho mais ao molho porque são muitas. Todas identificadas com a minha letra ou da minha irmã. Muitas guardam a identificação mas não o conteúdo. Eram programas de televisão por cima de jogos de futebol... O Beverly Hills 90210 a substituir um episódio da Tieta. Não se substituíam filmes nem concertos nem paixões adolescentes. Quantas vezes não revi os Parabéns com o João Vieira Pinto como convidado, o meu ídolo. E o Chuva de Estrelas especial aniversário SIC? Ainda vejo o vestido curto da Catarina, o "cantarolês" do Figueiras e a Conceição Lino de Jessica Rabbit. E nem preciso pôr essa VHS para a frente e para trás. Nem a do Comando. Imaginam isso? Era viciada naquela miúda raptada que, no final, o Schwarznegger carrega ao colo depois de massacrar mil e uma pessoas. Ainda hoje me pergunto como era viciada nisto. Mas a maior parte das minhas VHS eram mais românticas. Andei pelo mar com a Ariel e fui gata borralheira com a Cinderela. Estas foram as cassetes que mais giraram. Ainda falo em versão brasileira aquilo que elas diziam e canto com esse mesmo sotaque o que os amigos animais cantarolavam! Daqui evoluí para o Dirty Dancing e para os Loucos do Skate. Claramente já a entrar na adolescência! Claro que agora fiquei com vontade de explorar as VHS, de recuperar filmes que me levam a momentos que continuam cá gravados, mas que precisam de uma caixa rija ou de uma identificação a caneta para me lembrar deles. Se não tivesse em repouso, agora, ia a casa dos meus pais e abria o armário. Hoje a televisão faz as gravações e os filmes estão na net. Não é preciso esperar nem rebobinar. Mesmo assim, na minha casa há um armário com filmes do lado esquerdo e séries do lado direito. Todos de caixa rija porque todas as estórias (e histórias) começam pela capa. Já não repito visionamentos em série, mas sei de cor o Moulin Rouge e o Gato Preto, Gato Branco, tal como no tempo das princesas. Depois tenho filmes e realizadores, cenas ou bandas sonoras que marcaram. Gosto de olhar para eles, de vez em quando, e sentir o mesmo que sentia no clube de vídeo. Às vezes, basta olhar! Hoje não precisava de ocupar o armário, mas como poderei, daqui a uns anos, voltar atrás se não tiver todas estas histórias fisicamente comigo? Sou do tempo da VHS e faço questão de ser do tempo do DVD.
 

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