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A minha mãe não é vaidosa como eu. Mas as fotos mostram-me modelitos que eu hoje gostaria que ainda estivessem vivos. Mesmo assim consegui recuperar alguns. A minha mãe tornou-se mais prática. Mas continua a ter peças muito giras, mesmo que agora sejam conjugadas com os inseparáveis jeans. Ela sabe sempre o que me fica bem. E no Natal eu faço figas. Faço figas porque quero tê-la como amigo secreto. A minha mãe tem um sorriso largo, daqueles que chegam às gengivas e arredondam as bochechas. É um sorriso sem controlo que se abre com o coração e que ela não evita, mesmo que a expressão não a favoreça. A minha mãe não tem medo. É genuína. A minha mãe nunca se queixa. Não fala muito, mas quando conta histórias vai sempre pelo caminho mais longo. Já foi mais tímida e a idade fez dela mais extrovertida. Hoje sabe contar piadas e gosta de estar em festa. Mas continua a ouvir mais e a falar o essencial. Continua a ter a palavra certa. Há conversas simples que se transformaram em valores meus. Há conversas simples que só o tempo me fez entender. Há conversas simples que me construíram. A minha mãe gosta de ouvir musica e em casa está sempre sintonizada. É um bocadinho surda, como eu, e ouve rádio bem alto. Ela está sempre atualizada e gosta de me sugerir novos espaços em Lisboa e de partilhar comigo as novas músicas que por lá ouve. A minha mãe deixou a carreira e um país por amor. Não terá sido fácil mas nunca a senti infeliz. Deve ser porque encara tudo pelo lado positivo. Hoje sei que gosta do que faz. E não tem saudades de falar francês, mas quer voltar a Saint-Étienne e recordar a infância. A minha mãe gosta de descobrir. De criar. De surpreender. Foi ela que arranjou uma forma criativa de me informar que CELIA e ALICE se escrevem com as mesmas letras. A minha mãe nunca foi galinha. Sempre conseguiu dar-me o meu espaço. Sabe até onde pode ir. Sempre soube. Sempre me deixou seguir caminho. Bastava não a desiludir. A minha mãe não me dá sempre razão. Mas sempre acreditou em mim. Sempre. E eu quero acreditar que vou ter conversas simples e sábias. Quero acreditar que vou respeitar o silêncio. Quero acreditar que vou conseguir dizer “não”. Quero acreditar que vou ser descontraída e não galinha. Eu quero inspirar-me nela. Na minha mãe. 

Comentários

  1. Se te inspirares Nela, a minha sobrinha será com toda a certeza um SER Humano Maravilhoso! Como tu!!! Beijos

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  2. Vou fazer por isso! Um beijinho grande grande e obrigada mesmo

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