Sevilha



Sevilha. Queria tanto ir. Há anos que tentava combinar uma viagem romântica. De tapas e copo na mão. Mas foi sempre adiado. Nem sei bem porquê. E Sevilha apareceu. De surpresa. Poucos dias antes das férias. O Vítor chegou a casa com hotel marcado para quatro dias. Uau! Num hotel cinco estrelas. Que fixe! Mais conhecido por Hotel dos Piratas. Ah! Com filha incluída. Pois... Portanto, Sevilha apareceu na minha vida com um novo romantismo. Mas eu fiquei feliz. Apesar de nunca estar muito convencida antes de lá chegar. E lá fomos nós. Na época em que ninguém aconselha. Atrás dos 40 graus à sombra. E correu muito bem. Claro que a parte do romantismo ficará para depois. Mas deu para andarmos enamorados e felizes os três. Piscina durante o dia e tapas e cañas à noite. E assim foi. Sevilha tem ali uma vida e uma mística que me sabe muito bem. Adoro, simplesmente, estar. Naquele ambiente. A viver. A observar. E felizmente a minha filha também me parece gostar. Apesar de refilar nas viagens de carro. Quer sempre ir a pé. E está numa fase em que ir de carro é sempre longe. Mas deu-se bem com as tapas, e acho que o que ela mais gostou foi do som da cidade. Porque Sevilha tem música. Por todo o lado. Goste-se ou não. Há sempre alguém que aparece com uma guitarra. E ela queria sempre dar a moedinha. Tive de lhe explicar o conceito. Acho que não percebeu, mas um dia fará a distinção. Espero. Numa das noites quis comprar uma guitarra. Quer dizer, queria um vestido de sevilhana e eu até já estava a preparar o próximo carnaval. Mas depois de o vestir mudou de ideias. Escolheu uma guitarra. Desde que regressámos, acho que todos os dias pega nela e toca e canta toda animada. Nalgumas vezes vira-a para baixo e pede-nos a moedinha. E naquela noite, sem nada planeado, passámos pela Casa de la Guitarra. A breves minutos do espetáculo começar. Entrámos. A Alice não pagou. Ficámos na última fila. Ela ao colo do pai e com guitarra cor de rosa ao colo dela. E no silêncio dos primeiros acordes da guitarra em palco, ouviram-se as cordas da Alice. E na escuridão os olhares viraram-se para trás à procura dela com sorrisos rasgados. E ela portou-se lindamente. Só saiu quando a sevilhana tardou em regressar. Foi para mudar de vestido. A Alice tinha-nos avisado.



E no dia seguinte, a Alice ainda gostou mais. Aquele em que viajámos de comboio até à Isla Mágica. Numa viagem curtíssima como as crianças gostam. Sem ter hipótese de perguntar quando chegamos. E se na Disney houve o encantamento, aqui foi o divertimento. Ela adorou cada carrossel. Cada momento. Aqueles com mais adrenalina em que ia acompanhada por nós. E aqueles em que já podia ir sozinha e se sentia crescida. Aprendeu a lidar com sensação na barriga. Com a velocidade. E a gritar para se libertar da adrenalina. Mesmo que a descida fosse ligeira. Só não gostou de molhar o vestido. E as sandálias. Aí chorou. Completamente encharcadas. Eu e ela. Porque o paizinho safou-se da “onda gigante”. Mas não se safou do Kids Club. Devíamos ter ido um ano depois. Com quatro anos os filhos tornam-se independentes nos hotéis da família. Até lá temos que os vigiar. E ficávamos mais à distância. A vê-la observar. Interagir muito devagar. A ver as meninas espanholas a querer ajudar. A vê-la dançar. (trouxe uma coreografia espanhola lá para casa) A vê-la completamente ao lado do jogo, porque as piratinhas que ela adorou falavam espanhol. Ao colo delas. Talvez por ser a mais pequena. Por querer ali estar. Por se perceber que estava a gostar, mesmo sem falar. Ela gostou muito. E queria sempre voltar. Sorte que era fácil convencê-la com a piscina. E tira-la de lá. E no final do dia, no regresso ao hotel, lá íamos ter com as piratinhas. Já exaustas às onze da noite. E a saberem que no dia seguinte lá estariam às dez da manhã prontas para o pequeno almoço dos piratas. Escusado será dizer que a Alice não queria regressar a casa. Quer voltar. E eu também. E deixá-la nos piratas. Sem ter de a vigiar. 


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