a dor do amor

Talvez já tenha escrito sobre isto. É que ser mãe custa. Dói. Hoje deixei a minha filha na escola com umas mini-meias do ano passado. E cheguei ao trabalho a pensar nisso. Quando lhas calcei parecia que estava tudo bem. Mas quando calcei os ténis e saímos de casa fiquei na dúvida. Na escola percebi que, afinal, já estão curtas. Não no pé, mas na perna. E os ténis ficam em contacto com a pele. E dói-me pensar que pode fazer ferida. E ela nem é nada comichosa. Pelo contrário. Rija que dói e não se queixa e não pára quieta por uma dor. Mas estão a perceber o ridículo disto? O ridículo todos percebem. Agora a dor, deduzo que só quem realmente entrou nesta vida da paternidade. É muito esquisito. Há um sofrimento constante. Ou então sou eu. Sofre-se com medo das meias. Sofre-se com medo de que a educação não esteja a ser a mais correta. Sofre-se com a decisão de mudar ou não de escola. E só tem 3 anos. Mas adora a educadora. De paixão. E custa-me separá-las. Portanto, ainda não decidi. Depois dói quando ela quer o pai e não me quer a mim. Mesmo que sejam cinco minutos. E mesmo que dê muito jeito. Dói quando cedemos. Dói quando contrariamos. No fundo não são dores de verdade. Físicas. São muitas questões. São inseguranças. Duvidamos de nós. Mesmo que tenhamos certezas. Mas duvidamos. É o medo de não estar a fazer bem. É o medo de não dar certo. São as birras dos 3 anos. São respostas na ponta da língua. E contra-respostas. E argumentos. É alguém que está a deixar de ser bebé. Que cresce. E que é traquina. Atrevida. Irrequieta. Mandona. E que nos desafia muito. Depois é a chucha que ela adora. É a maminha que ainda gosta. Tantas e tantas coisas. Depois há momentos em que ela não obedece. Depois há quem nos diga que tem de deixar a chucha. Tantas e tantas coisas. E tu não ligas. Tu sabes e sempre soubeste o que querias. Mas mesmo assim, duvidas. Questionas. E às vezes sentes-te perdida. Às vezes tens atitudes que não queres. Depois lês cada vez mais coisas sobre o tema. Depois continuas a não dormir as horas devidas. A não descansar muito. E portanto, são dores, senhores. E no fundo é um desabafo. Porque raio vim eu para o trabalho a pensar nas meias da minha filha? E mais do que isso, a sofrer por sentir que ela, eventualmente, poderá vir a sofrer, mesmo que o mais provável seja que nem dê por isso e que mesmo que faça uma ferida no calcanhar ela não sinta a dor. E é por isso que ser mãe dói. É uma dorzinha constante. Às vezes intensifica-se, mas está sempre lá. Sempre. E nunca se vai apagar. E isto só acontece porque este amor é maior do que a dor. Muito maior.   

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