vou pedir ao tempo que me dê mais tempo



































O dia da mãe já foi. Eu sei. Estou atrasada. Mas estou a tempo. Naquele domingo acordei com uma série de post-its na porta da casa de banho. Diziam-me que estou a desempenhar muito bem o meu papel. Diziam como se fosse a Alice a sentir. Como se a mensagem fosse dela. Sei que serão assim os próximos presentes. Sempre na boca de terceiros mas saborosos. Mas este foi especial. Foi o pai. E o pai sente a mensagem. Conhece estes primeiros tempos de mãe. Nem sempre acreditamos que estamos a fazer o melhor. Nem sempre nos sentimos seguras. Muitas vezes sentimo-nos cansadas. O dia da mãe já foi. Eu sei. Estou atrasada. Mas estou a tempo. Naquele domingo tive várias surpresas. Uma delas veio numa caixa de papelão. Foi no dia seguinte porque a Zara falhou a entrega. Sem problema. Desembrulhei os figurinos para uma sessão em família. A primeira. Simples, curta e sincera. Com o olhar da minha querida Maria. E que olhar! Gostámos muito.O dia da mãe já foi. Eu sei. Estou atrasada. Mas estou a tempo. Hoje demoro mais a escrever. Não é quando quero. Não é quando a inspiração aparece. É quando o tempo me deixa. E nesse tempo quero escrever sobre tudo e acabo por escrever sobre nada. Quero voltar. Mas não pressiono. Estou a viver um tempo que não se repetirá. Ando num namoro com a minha filha. Vivemos coladas dia e noite. Sou exclusivamente mãe. São curtos os intervalos. Estou a viver um tempo em que o dia da mãe é todos os dias. Literalmente. Mas esse tempo tem uma ampulheta. A areia está em movimento. Não tarda o namoro será diferente. Não tarda a minha filha sobreviverá sem se colar a mim de três em três horas. Sem passar do meu colo para a espreguiçadeira. Da espreguiçadeira para o meu colo. Do meu colo para o tapete. Do tapete para o meu colo. E eu que nunca gostei de rotinas. Não tarda os almoços a quatro serão substituídos. As sextas-feiras vão perder o sabor a peixe fresco grelhado pelo avô. E as viagens até lá? Duas malas ao ombro e o ovo pendurado num braço. No outro dois sacos. Um com a roupa suja da Alice. Outro com os tapperware lavados da avó. Na mão as chaves do carro e de casa. E vai-se até à garagem a cambalear. Mas sempre a sorrir e a conversar. Não tarda vai mudar. Não tarda a viagem será outra. Com outros sacos e outras malas. Não tarda a Alice passará o dia noutros colos e noutros tapetes. Agora percebo quando dizem que passa rápido. Que o tempo voa. É que este tempo não voltará. Este tempo em que nos confundimos: mãe e filha. Agora percebo quando o pai fica ciumento desta exclusividade. Quando fica desejoso que chegue o mês dele. E eu partilho. Eu deixo o final da tarde e os fins-de-semana para o pai. Eu dou intervalos de três horas aos avós. Mas não há dúvida que estes primeiros meses desdobram-se em dias da mãe. Nestes meses somos siameses. É tão especial. Acho que não se explica. Pelo menos tenho escrito e apagado caracteres. Não encontro nenhuma palavra. Nenhuma frase. Acho que só se sente. Só se vive. E eu estou a viver. E vou ter saudades. Acho que já tenho. Acho que é por isso que escrevo sobre os dias da mãe. Os meus dias. Intensos. Exaustos. Absorventes. Repetitivos. Os meus dias. De descoberta. De experiências. De muito toque e muita paixão. O dia da mãe já foi. Eu sei. Mas estou a tempo. Ainda tenho licença para viver o dia da mãe. Dias após dias. Mês após mês. Não estou atrasada. Mas já me sinto com menos tempo. Já sinto o meu coração embalado pela música da Mariza. Ando a pedir ao tempo para me dar mais tempo só para olhar para ti, Alice. 

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