DISCIPLINA, POR FAVOR.

Ando a escrever pouco. E não tenho controlo nisso. Parece que são os meus dedos que mandam. Quando querem desdobram-se pelas teclas e escrevem. Escrevem sem parar e eu sorrio. O que eu gostava que isto fosse diário! Ou semanal. Mas na verdade falta-me disciplina. Deveria ser eu a comandar. A dirigi-los. Não deviam ser eles a deixar fluir os meus pensamentos. A deixá-los escritos. E a disciplina falta-me na vida. Ando a tentar encontrá-la. Mas é difícil. Disciplina para escrever. Para meditar. Para fazer exercício. Para regressar ao Pilates. Para deitar a minha filha à mesma hora. Para sair de casa a tempo de manhã, sem correr e chegar já com os miúdos sentados no tapete. E falta-me disciplina para ir buscar as ideias. Para as deixar pousar. Porque elas passam por mim. Ou passarei eu por elas? São muitas. E eu, simplesmente, fico a voar. Ando sempre pelo ar. Parece que às vezes me faltam os pés assentes na terra. Porque é a minha cabeça que caminha. Que anda. Ela não pára um segundo. Não descansa. São sonhos, desejos, devaneios. São pensamentos, preocupações, antecipações. E abrandar? Ando a tentar. Mas é difícil. São muitos anos a ouvir a minha cabeça. A deixa-la girar. Criar. Sem travar. E agora quase aos 40 peço-lhe disciplina? Sossego? 
Entretanto, os meus dedos continuam a teclar. Sozinhos. Desabafam. E lembram-se que tive vontade de escrever a cerca da reforma dos meus pais. Começaram há um mês. Era tão desejada. Eu sofri alguns anos. Sempre que o meu pai dizia que quando a reforma chegasse ele iria aproveitar. O medo que eu tinha de ele não conseguir lá chegar. E já chegou. Chegaram. E estão tão felizes. Cheios de planos. Cheios de vida. A marcar o momento. A viajar. Em excursões de velhos. Em passeios a dois. Em reuniões de família. E a minha filha que recebeu uma carta do Pai Natal? (isto é a minha cabeça a girar. A mudar de assunto sem avisar. Tão comum no meu dia-a-dia). A Alice delirou ao perceber que o velhinho das barbas brancas sabe muito sobre ela. Sabe o que mais gosta. Sabe o nome da amiga. E ela ainda ficou a saber que o Nenuco que pediu está quase pronto. Ela que pensava que só era preciso dinheiro. E delirou com o segredo. Com a tarefa mágica que ela terá de realizar na noite de natal. Ficou tão feliz que não dormiu. A Alice acordou às 3 da manhã e só voltou a adormecer quando o despertador do pai tocou. E na escola a Ana teve de ler a extensa carta aos amigos duas vezes. Que magia! Que alegria! E foram estas palavras que os meus dedos não escreveram. Pelo menos nos respetivos momentos e tal e qual a minha cabeça os pensou. Porque é sempre assim. A frase nasce. Mas se não me dedico a ela... se não dou liberdade aos meus dedos... Ela voa. E dá lugar a outros pensamentos. Devaneios. Sonhos. E sei lá eu mais o quê. 
Bem, vou trabalhar a disciplina. Daqui a uma semana haverá novo texto, sejam os dedos ou a cabeça a comandar.  

Comentários

  1. Respostas
    1. ahaha. e estarás com certeza, tu que és a minha fiel leitora e comentadora. muitos beijos disciplinados

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