uma homenagem e um desabafo

DOIS MESES DE ALICE. 
Hoje apetece-me escrever sobre amamentação. Tenho duas pessoas próximas que foram mães há pouco tempo. Uma pela primeira vez no fim de Janeiro e outra agora em Maio pela segunda vez. E dei por mim no carro de volta para casa a pensar nelas e em nós mães nesta fase. Nesta fase inicial em que a amamentação é muito dolorosa. E aqui falo mesmo da dor física. Daquilo que se sente. Daquilo que nós mães sofremos de dor para poder alimentar os nossos filhos quando nascem. Chega a ser animalesco. De um dia para o outro parece que nos tornamos irracionais e fazemos o que tem de ser feito. Sem questionar. Rendidas. Entregues. Cansadas e sem força. Mas brutalmente decididas. Cada mamada arde como se nos colocassem álcool na ferida. Cada mama ganha o peso de uma pedra. Mas seguimos com o corpo todo contraído e com a expressão de quem sofre sem o bebé sentir. Porque o que importa é ver a nossa cria crescer. Depois a dor deixa de ser tão física, isto dependo dos casos, é claro, e é muito psicológica. Passa a doer o coração. A atormentar os nossos pensamentos. Porque se ao longo da gravidez somos confrontadas com a importância do leite materno. Se nos vendem os cremes e os discos para as mamas. Se nos ensinam a forma correta para o bebe pegar na mama. Os truques para não encaroçar. Se nos dizem que se pegar no biberão depois será dificil pegar na mama. E mil e uma coisas. Quando o bebe nasce confrontam-nos com a balança. Ao mínimo motivo somos aconselhadas com suplementos. Porque não está a crescer. Porque não está no percentil. Eu vim carregada de garrafinhas da maternidade. Porque a Alice era muito pequenina e era melhor dar. Opinião das enfermeiras. Na primeira noite que ficou a dormir com as enfermeiras teve direito a suplemento. E claro que me doeu. Muito! E agora? Já não vai querer a minha mama! Vai alimentar-se de leite artificial! Não lhe vai fazer bem! Mas pegou na mama. E o leite artificial também não lhe fez mal. Mas depois vivemos os primeiros tempos nesse limbo. Nessa decisão que é nossa, mas que temos medo das repercussões porque desconhecemos. Estamos nisto pela primeira vez. Ou mesmo na segunda e na terceira. Não queremos que a nossa ação tenha uma má consequência no nosso filho. No meu caso as garrafinhas que vieram da maternidade ficaram na gaveta até irem parar ao lixo. Porque decidimos não dar. Porque decidimos mudar de pediatra. E porque tivemos a sorte de encontrar um que nos deu toda a confiança. E que ainda hoje nos dá. E a Alice sempre foi pequenina. Sempre teve no percentil 5. Mesmo quando passou para os sólidos. Só neste último ano deu grandes pulos e cresceu. Mas mesmo assim, mesmo acreditando no pediatra, vivi sempre na dúvida se estaria a resultar. Se o meu leite era suficiente. Se estava a fazer-lhe bem. E no fundo é também desse esforço que quero falar. De quem, mesmo a dar suplemento, não desiste e continua a estimular as mamas. Continua a tirar leite com a bomba para poder continuar a ter leite. Para poder continuar a dar de mamar à sua cria. Porque mesmo as latas de leite artificial dizem que o leite materno é melhor. Mas isto sai do pelo. Sai do coração. Sai de todo o lado. E porquê? Não sabemos. Não há muito a fazer. É o nosso instinto animal que nasce com o nosso bebé. E, portanto, este texto, é uma espécie de desabafo. Precisamos de sintonia. Se o leite materno é que é bom então não deem a maior das importâncias à balança. E aí as pessoas da área da saúde devem ter esse cuidado. Mas este texto é acima de tudo uma homenagem às mulheres no momento em que se tornam mães. Seja pela primeira, segunda ou terceira vez. Todas nós, independente da escolha, de dar ou não de mamar, sofremos com o nascimento dos nossos filhos. Sentimos a dor de ter de fazer crescer com saúde o nosso ser. E ninguém julgue. Ninguém diga que é certo ou errado. Apenas respeitem. Se queremos dar de mamar, aguentem até nos aconselhar os suplementos, malta da saúde e arredores. Se decidimos logo pelo leite artificial também não questionem. Deixem-nos estar. Só não nos baralhem nesta fase em que não conseguimos pensar.  


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