A alice está a crescer


Nos últimos tempos tenho sentido uma filha crescida. Aquela que se senta no meio de nós no sofá a ver os nossos programas. Mesmo que possa não ser por muito tempo. Aquela que aguenta ver o Dumbo no cinema sem se levantar. Sem adormecer. Sem pedir para ir à casa de banho. Aquela que me diz para me ir deitar que ela lava a casa de banho, depois de me ter ouvido dizer que estava com muitas dores. Aquela que já não faz birras. Passou a amuar, mas é muito mais fácil de lidar. Já empresta os brinquedos sem problema. Voltou a ir comigo às compras escolher as prendas dos amigos. No último ano era difícil. Resmungava sempre porque dávamos prendas aos outros e não a ela. Aquela que me ajuda a escolher as prendas das minhas amigas. Aquela que no restaurante já não precisa que levemos as canetas e o livro para colorir para os tempos mortos. Já consegue esperar. Conversar. Claro que mexe e se mexe.  Inventa brincadeiras com as ementas e com as loiças da mesa. Mas não importa. Aquela que nos vê arrumar e quer ajudar. Mesmo que às vezes desarrume ainda mais. Ou mesmo que resmungue quando lhe peço ajuda e a oiço lá no quarto dela: “pois, tu (que sou eu) queres que eu seja uma empregada”. Mesmo nisso está crescida porque lhe explico com uma pilha de toalhas nas mãos que também estou a arrumar e que o pai de manhã esteve a aspirar. E a expressão dela mostra-me que acalmou e percebeu. E lá vai arrumar. E eu ajudo-a, claro. E arrumo muito mais do que ela. Também na hora de adormecer está a crescer. Sinto que já não precisa tanto de mim. Apesar de eu ainda estar lá ao lado dela. Já gosta de se vestir sozinha. De me dizer que já está de pijama e já lavou os dentes. Que já penteou o cabelo. E toma a iniciativa de ir buscar a roupa ao armário. Mesmo que signifique chegar ao quarto dela e ter a roupa quase toda em cima da cama. Faz-me cada vez mais perguntas e comparações. No outro dia, saíamos do banho coladas uma à outra e perguntou-me o significado da palavra “colo”. E depois de ouvir a resposta disse-me que era a mesma coisa que “cola”. Talvez por ter estado a fazer colagens de manhã. A minha filha já se aguenta muito mais tempo sozinha no jardim. Quer ser ela a estender a toalha do piquenique. Já pede para abrir a garagem e desenrasca-se com os brinquedos e com as brincadeiras dela.  Nas nossas saídas com os amigos, havendo outras crianças mais crescidas ou da idade dela, ela entretém-se com elas. Ela fica. Sem nos chatear. Em casa tira e põe cds e dança com as músicas que gosta. E o que eu gosto de a ver usar os meus cds e os dela. De ver que se entretém apenas com música. No dia em que fui ao Programa da Cristina disse-me no caminho para a escola: “tu és corajosa, mãe, tu vais conseguir. Ainda por cima vais ficar toda linda maquilhada”. Isto depois de eu lhe dizer que estava nervosa. E no fim do dia quando cheguei a casa tive uma prenda. Ela e o pai viram o programa juntos e ela pediu uma nota ao pai para me dar por ter conseguido. E hoje, sabendo que tinha de ir pagar a mensalidade da escola perguntou-me: “não vais pagar com a nota que eu te dei, pois não Mãe?”. Também já me disse quase a choramingar que um dia quando já tiver uma filha não quer se separar dos pais. Não quer viver noutra casa. Está apaixonada por nós. Nunca os nossos beijos e abraços foram tão intensos. Nunca repetimos tantas vezes por dia a palavra “amo-te”. Nunca demos tantos "abraços de família" que ela pede e volta a pedir à hora de jantar. A Alice está a crescer. Está cada vez mais conversadora. Faz cada vez mais companhia. As minhas amigas já me tinham avisado que esta fase iria chegar. E é tão boa. Eu estou a adorar. Deve ser assim das minhas preferidas. Depois do reboliço dos três anos está a saber-me muito bem. É uma fase mais calma que sei que terá um tempo. E eu vou aproveitar. E prometo não complicar. 

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