"papa gâteau"



















Voltei ao trabalho. Foi na semana passada. Tudo tranquilo. A Alice ficou com o "papa gâteau". Gosto do estrangeirismo. Foi a minha prima Céline que mo apresentou. Ela diz que em francês o Vitor é um "papa gâteau". Eu gostei. Identifiquei. E adotei. Acho que é fácil perceber porquê. Transmite doçura. Preocupação. Amor. Mas não foi só a Céline quem viu. Outras mulheres viram. Outras mulheres pensaram alto e deixaram que ouvíssemos. Não usam o estrangeirismo. Mas eu acho que é porque não sabem que ele existe. Senão poupavam palavras. Mas eu gosto de as ouvir. E de as ver dizer. Dizem com ternura. Comentam com ternura a forma como ele prende a Alice no colo. E eu acho que a Alice também já percebeu. Percebe-se pela forma como ela se cola ao pai. A cara encostada ao peito. O olhar fica muito meigo. A mão cerrada à  t-shirt. Quieta e serena. Ela não quer sair dali. Portanto, estou tranquila. A Alice tem um "papa gâteau". Claro que tenho saudades. Dos dois. De podermos estar a três. Claro que recebo uma foto dela e emociono-me. Claro que pergunto se ela comeu e dormiu. Claro que de manhã despeço-me dela com o coração apertadinho. Claro que no caminho de regresso vou a pensar na hora de abrir a porta e de a ver sorrir. E no primeiro dia foi duro. A minha filha ignorou-me. Mas foi só no primeiro dia. Virou-me a cara. Não se riu. E eu choraminguei. Mas tudo tranquilo. Está com o pai. E eu voltei ao trabalho. E gostei. Gosto de estar ativa. Confesso. Não tenho problemas em admitir. Prefiro assim. Apesar das saudades prefiro esta modalidade. E estou tranquila. A Alice tem um "papa gâteau". Um pai que a adormece como ninguém. Um pai que se levanta a meio da noite. Um pai que não me pergunta o que vestir. E eu fico caladinha quando não concordo muito com o outfit da Alice. Um pai que leva a fruta já cozida para o lanche quando vai almoçar aos avós. Um pai que este ano vai dispensar o cativo na Luz. Já me disse duas vezes. Repetiu o argumento. Quer aproveitar ao máximo a Alice no primeiro ano de vida. É mesmo um "gâteau". É um pai que lhe dá rotinas. Eu não dou. Eu não tenho pressas. Eu deixo o tempo dançar. E eu danço ao ritmo dele. E a Alice também dançava. Agora não. Agora eles mandam no relógio. Percebi isso na quinta-feira. Voltei de reboque para casa e fiquei por lá a trabalhar. E foi giro perceber. Eles comem mais ou menos à mesma hora. E mais ou menos a mesma dose. Eles têm um ritual de comida. Há uma pausa para água e chuchar no dedo. Comigo não há medidas nem dias iguais. E acho que ela está a gostar de ter rotinas. Não são rígidas. Até porque ele é militar mas é um "gâteau". Portanto, há ali um casamento saudável. Eu gosto de a sentir feliz quando regresso a casa. Gosto de o ver feliz. Mesmo que cansado. Gosto de os encontrar deitados na relva. Gosto de os encontrar no sofá. Gosto de os encontrar deitados no tapete. No fundo, gosto de abrir a porta e de me sentir a triplicar. O regresso a casa tem um novo sabor. Está mais doce. E é muito mais desejado. E hoje foi duro. Eram 20h00 quando abri a porta. Encontrei-os separados. O pai na cozinha e a Alice na sala a brincar. Ainda rimos. Brincámos. Dançámos. Ainda nos beijámos muito. Mas eu que não tenho pressas passei a olhar mais para o relógio. Hoje percebi isso. Percebi que dói atrasar o regresso a casa. Mas apesar de doer, estou tranquila. A Alice tem um "papa gâteau".    

Comentários

Mensagens populares