Trinta e seis anos.


Trinta e seis anos. Escrevo por extenso para ver se a idade me faz mais sentido. Mas não faz. Não sinto esses anos. Às vezes acho que deveria ser menos miúda. Às vezes gostava que se topasse a léguas que sou mãe. Que sou casada. Que ando nesta vida há trinta e seis anos. Às vezes gostava de não ter este ar de recém-licenciada. Acabadinha de estagiar. Há uns dias, fiz várias entrevistas numa consultora. Quase todos pareciam mais velhos. Mais sérios. Mais adultos. E afinal, no momento da apresentação, essas pessoas mais sérias não chegam aos trinta e seis. E eu ali, na frente delas, a parecer a miúda. Mas a culpa é minha. Sou eu que não me levo a sério. Ou melhor, sou eu que não levo a idade a sério. A culpa é desta miúda tímida que eu ainda vou encontrando cá dentro. Mudei muito. Falo mais. Ainda observo mais. Mas a miúda tímida ficou sempre comigo. E claro que não me vai largar. Ou eu a ela. E sei que ela é visível. Está na minha cara. No meu sorriso. Na minha atitude. Está na primeira impressão. Nos primeiros contactos. É ela que me deixa um ar tão despreocupado com o que possam ou não pensar. É ela que às vezes me rouba as palavras. Às vezes também acho que não me esforço. Podia tentar. Podia optar pelo salto alto. Mas deixo-me ficar baixinha. Deixo-me ficar sem idade. Porque é isso que sinto. Sinto que não sei a quantas ando. Continuo a gostar de brincar. Continuo interessada em aprender. Continuo a sonhar. Sonho muito. Imagino. Viajo. Paralelamente vou vivendo uma vida imaginária. Às vezes sinto-me uma espécie de Peter Pan. Nalguns aspetos parece que continuo a não querer crescer. Mas são trinta e seis. Já deveria estar preocupada com os quarenta. Já deveria saber tirar as nódoas da roupa da minha filha. Embora já tire os borbotos. Há sensivelmente um mês que ela anda sem um botão no bibe. É daqueles que não faz muita falta. Mas outra mãe já o teria posto. Já se teria esforçado para encontrar um botão igual. E se não o encontrasse já teria mudado todos. Eu já o encontrei na bolsa pequenina da mochila dela. Na semana passada. Mas ainda não o cosi. Não sei como ela me vê. A minha filha. Será que também não vê a minha idade? Ou será a única pessoa que a vê? Não sei. Nem quero saber. Sei que vamos continuar a somar aniversários juntas. Contentes por celebrar. Mesmo que o menos importante sejam as velas. Os números. E as primeiras impressões.


Comentários

  1. Nunca pensei que fossemos tão parecidas Célia!
    Muitos Parabéns pelos 36!
    Beijinhos

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