O dia do pijama

Hoje é dia do pijama. Sei disso desde que a Alice foi para a creche. E hoje lá foi ela de pijama. Um pijama que comprámos há uns tempos no Aldi. De algodão orgânico. Assim bonitinho. Confortável. Barato. São assim os nossos pijamas. Olho sempre para a composição e para o preço. E lá foi ela. Mas podia não ter ido com este pijama. É que a nossa casa é muito quentinha. E os nossos pijamas são fresquinhos. E é Inverno. Por isso pensei em comprar um novo. Para o dia do pijama. Mais quente. Para que não passasse frio. E giro. E lá fui eu. Fomos nós, que a Alice também foi. Corri algumas lojas de olho nos pijamas. Vi muitos. Vi preços altos. Vi pijamas cheios de bonecos da moda. Nada especiais. E muitos pareciam autênticos fatos de treino. Parei na loja que mais escolha tinha. Andei e andei. "Escolho este ou aquele? Alice, gostas deste ou daquele? Mas é polar? Ela não vai voltar a usar. Talvez quando for dormir a casa da avó. Mas isso é raro. Talvez quando formos dormir a casa da prima Susana ou da Annie. Mas as casas também são aquecidas. E os preços? Noutra altura eu não daria vinte euros por um pijama"... E fui continuando. Com dúvidas. Com pijamas na mão. Com pijamas pendurados no carinho da Alice. Com fotografias para o Vitor porque precisava de opinião. E vi pijamas. E vi pessoas. E mais pessoas. A escolher e a comprar. Compravam pijamas. Pantufas. Meias. E robes. Vi muitas pessoas a comprar. Observei. E felizmente não comprei. Não comprei. Porque me lembrei que neste dia o que menos interessa é o pijama. Não interesse se é giro ou feio. Se está quente ou frio. Interessa o propósito. Interessa que é dia da Convenção Internacional dos Direitos da Criança. Que neste dia as nossas escolas, a nível nacional, alertam para o facto de todas as crianças terem direito a uma família, apesar de muitas estarem institucionalizadas. Interessa que estamos a ajudar. A contribuir. Estamos a construir as nossas crianças para a solidariedade. É isso que interessa. E ali naquela loja, vi pessoas a fugir. A fugir ao propósito deste dia. A distrairem-se mais uma vez. A não pensarem. E vi lojas a fazerem campanhas. A tirar partido do dia do pijama. Até percebo. É o negócio. Mas se calhar desconhecem o propósito. Se calhar não sabem que, neste dia, as nossas crianças levam para a escola uma casinha de papel com moedas ou notas que foram juntando para ajudar a instituição "Mundos de Vida". Se calhar não sabem que o pijama é uma forma de sinalizar o dia. É o símbolo do conforto e da família. Não se trata de mais um Halloween. Não. Até podem querer vender pijamas, mas pelo menos coloquem algumas moedas numa caixinha de papel. E entreguem-na à instituição. Tal como as nossas crianças hoje vão fazer. Todas vão entregar a sua caixinha. As suas moedas. Que colocaram tão atentamente. Que pediram aos tios e aos avós. É isso que interessa. E hoje facilmente nos desfocamos daquilo que realmente importa. Acho que todos temos de ir fazendo este exercício. De olhar. Observar. Refletir. E parar a tempo, se for o caso. Da minha parte, obrigada dia do pijama.   

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