OBRIGADA


Foi sensivelmente há um ano. Mais coisa menos coisa. Começou porque estava deitada. Porque o repouso passou de obrigatório a absoluto. Estava proibida. Mexer? Só da cama para o sofá. Mas a mente não iria aguentar. Essa tinha autorização para correr. Para fugir à contagem das semanas. Aos números do percentil. Às contrações que por vezes não passavam de impressões. E surgiu. Contrariando as regras de como fazer um blogue de sucesso. Nome comprido. Imagem pouco cuidada. Textos longos. Nenhuma regularidade nas publicações. Um post de semana a semana. De mês a mês. De três em tês meses. Não é um blogue. Ocupa o espaço da blogosfera mas não pode ser chamado como tal. Mas eu chamo. Eu vou continuar a usá-lo. À minha maneira. Não escondo que gostaria de vos dar mais textos. Mais regulares. Gostaria que o meu dia a dia também fosse este espaço. Gostaria que fosse uma parte do meu trabalho. Não é. Acho que ainda não consigo. Teria que me disciplinar. Mas a minha cabeça é um pouco indisciplinada. E o meu coração ainda é de criança. Ainda lhe dou ouvidos. Só quando ele grita, eu dou o meu grito. E escrevo. Sem parar. A sorrir. Escrevo um episódio. Foi uma amiga do coração que me disse. Eu escrevo capítulos. Não escrevo posts. E vocês vão lendo. Um a um. De tempos a tempos. Vocês. É giro ter leitores. Leitores como os meus. Que esperam. Que me dão o meu tempo. E que reagem. E eu cresço. Sorrio. Ganho fôlego a cada comentário. Por isso agradeço. Por isso não vou parar. Vou continuar desta forma. Mas quero mais.Tenho de disciplinar este coração. Entretanto passou um ano. Mais coisa menos coisa. Um ano daquele que seria um blogue sobre o meu coração. De criança. Porque acho que muito de mim vem das vivências de infância. Porque ainda tenho muito de criança. Mas revelou-se um coração de mãe. Coincidiu com o momento. A verdade é que há um ano, sensivelmente, o meu coração não era assim. Não sei o que mudou. Concretamente. Não identifico. Sinto que sou a mesma. Continuo metade criança metade mulher. Continuo a ter os mesmos assuntos de conversa. Continuo a gostar do detalhe. Continuo apaixonada pelas mesmas coisas. Pelas mesmas pessoas. Pela vida. Pelo mundo. Mas o coração mudou. Sei disso. Não é visível. Pelo menos para mim. Mas mudou. Tão simplesmente. Hoje o meu coração recebe. Recebe muito mais. E eu sinto que devolvo sempre pouco. E sou chata. E digo "amo-te". "Amo-te muito". "És linda". E repito. E volto a dizer. E faço aquele sorriso cheio de orgulho nos olhos. Cheio de alegria nos lábios. Vezes sem conta. A cada gracinha. A cada descoberta. A cada. A cada. Sei lá. E esfrego pele com pele. Sempre que possível. Os pés nas minhas bochechas. Os lábios nos lábios. No pescoço. Na barriga. As nossas cabeças encostadas. As bochechas coladas. As mãos entrelaçadas. Os meus dedos nos fios de cabelo. Os meus braços cerrados. Com ela no meio. Como se não coubesse lá. As pontas dos narizes enroscados. E os meus olhos cintilam apenas porque dorme. Observo. Olho. Venero. E o coração sente. Muito. A mil. Sente tudo. Mas parece pouco. Mas é muito mais do que muito. Percebem? É confuso. Mas passou um ano. Mais coisa menos coisa. E o meu coração mudou. Surpreendentemente, para muitas mães, não identifico este ano como o melhor da minha vida. Não sinto as coisas assim. Não consigo assinalar um ano. A vida dá sempre mais. E por isso ser mãe não me mudou assim tanto. Acho. É a minha visão de mim. Os outros vêem sempre melhor. Apenas acho que a maternidade me deu uma nova perspetiva de mim. Isso vê-se nos meus textos. Lê-se nos meus capítulos. Vou continuar. O meu coração precisa de escrever. E este blogue vai continuar a viver. Mesmo que desformatado da blogosfera. Obrigada a todos. Gosto muito de vos ter.

Comentários

  1. é tão bom ler-te! cá estarei sempre pronta para mais um capítulo. um beijo!

    ResponderEliminar
  2. E é tão bom ter-te aqui. Sempre querida. Um beijo muito muito grande e obrigada.

    ResponderEliminar

Enviar um comentário

Mensagens populares