a escola dos afetos

É na viagem de regresso que a dor se sente. Que o coração acelera. E aceleram os pensamentos. E os olhos querem chegar. Querem ver e sentir como correu. Que viagem dura a do regresso. E que tranquilidade. A Alice adormeceu bem. Esteve sempre calma. E foi um espanto. Comeu. Comeu. Comeu. "Ó mãe, onde é que esta miúda põe a comida?!" Duas conchas de sopa mais fruta. E respirámos de alívio. Já dormiu melhor. E na manhã seguinte lá estávamos em trio no mesmo trajeto. Ficou o dia inteiro. E nós fomos passear. Os dois. Que bom. Mas nessa manhã a Alice choramingou. Agarrou-se ao meu braço a pedir que não a mudasse de colo. E repetiu na 2f. E que dor! Sair de lá com ela a chorar. Mas doía mais sentir que virei as costas sem me despedir. Sem voltar atrás. Mas era melhor assim. Não piorar as coisas. E virava-me serenamente e a sorrir. Mas triste. Mas eu não sou assim. Eu não quero que a minha filha seja assim. Há sempre um beijo de olá e um beijo de despedida. E isso doeu muito nesses dois dias. Mas passou. Não se voltou a repetir. Mas se voltasse eu já sabia. Eu já sei. A Alice só passa para outro colo depois de me despedir. Depois de a beijar. De sentir que a amo e que vou voltar.(Obrigada Joana Ferreira). Já passaram dois meses. Mas não parece. E desde esse dia tem sido um descanso. Já não preciso mentir. O meu coração e o meu sorriso dizem a mesma coisa. E as costas voltam-se naturalmente. Tranquilas. E a Alice está bem. Já foi a medalha de ouro. Já foi a número um. Continua a ser a vaidosa. Há quem diga que é um amor. E agora é a Alicinha. Alice é muito mais bonito. Mas enfim, o diminutivo tem sempre algum afeto associado. Pelo menos para mim. Também já sabem que é refilona. Que não gosta de ouvir os outros chorar. Não gosta de ser a última a comer. E só dorme quando lhe apetece. Mas adormece sozinha (acredito que agarradinha à fralda como se sentisse o pai). E faz bons soninhos. Já passaram dois meses. E tem sido um descanso. Ela gosta de chegar à escola. Gosta de começar a ouvir os meninos no corredor. Ri-se quando chegamos. Vai para o colinho de qualquer uma. Diverte-se com a educadora Rosa. Muito. Encosta a cabeça ao ombro da Beta. Sorri com a simpatia da Leonor. (e deve gostar de a ouvir cantar) A Zázá é a mais efusiva quando chegam os bebés e a Armanda a mais discreta. O porteiro sorri-nos de orelha a orelha. E leva-nos à salinha mais afetuosa quando a comilona Alice precisa de maminha. Já passaram dois meses. E tem sido um descanso. Sinto afeto. Não só com a Alice. Sinto com todos os outros. Todos parecem felizes. Não se ouvem muitos choros naquela sala. E todos fazem progressos. Elas conhecem-nos muito bem. Elas gostam. Elas brincam. Cantam. Cozinham. Pintam. Abraçam. Dão colo. Dão beijinhos. Não estava à espera de tanto. De encontrar uma escola que desse colinho. E sorrisos. E eu não poderia estar mais feliz. Todos os dias. Todas as horas são essas as prendas que faço questão de dar à Alice. Sorrisos. Beijos e abraços. Sem exageros. Com verdade. Quero que se sinta amada para poder amar. Já passaram dois meses. E tem sido um descanso. E neste primeiro trimestre as atividades são sobre o afeto. Que sintonia. Que descanso. É a poção mágica da vida. Nada como inaugurar a vida escolar a ouvir o coração. O dela e o dos outros.
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