hoje o meu coração dói
Hoje
o meu coração não está igual. Não está bem. Hoje o meu coração dói. Doeu a manhã inteira.
Doeu deixar a minha filha na escola. O meu coração não gostou.
Escondi-me até que a Alice deixasse de chorar. Foi breve. Eu estava tranquila. Mas o coração nem tanto. E saí de lá com o meu coração esquisito. Angustiado. Dorido. Mas a dor já passou. E a Alice ainda não está em
casa. Não foi quando a vi. Nem quando a abracei. A dor apagou-se quando
fui ao facebook. Quando abri o "Público". Quando vi esta criança deitada
na areia. As lágrimas caíram. Não as consigo segurar. Caem! Caem!
Molham-me! Mas não consigo parar. Não consigo parar de pensar no
sofrimento. No sofrimento que o mundo anda a ver passar. Todos os dias
somos informados. Todos os dias vemos e lemos e ouvimos casos de homens
mulheres e famílias que fogem. Que fogem do medo. Têm direito. Nada lhes
parece pior do que a situação em que vivem. E têm razão. Mas há pior.
Há viagens que não terminam. Que não têm o melhor destino. E nós
sabemos. Sabemos disso todos os dias. Somos informados. De barcos
cheios. De alguns sucessos. Mas de muitos insucessos. E parece que não
ligamos à notícia. Ou ligamos e preocupamo-nos com a quantidade de
emigrantes que se vão instalar na Europa. Hoje o coração dói-me. Precisa
de gritar. Gritar para longe. Para nos ouvirmos uns aos outros. Afinal,
eu vou agora buscar a Alice. E o pai do menino que ficou pela areia? E todos os meninos
que por esta altura estão no meio do oceano? Hoje publico esta foto e
este texto porque penso que precisamos dela para gritar. Para mudar.
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