Descobri a melhor coisa do mundo


Quando penso na melhor coisa do mundo… Lembro-me de adormecer no sofá e de ser levada às cavalitas para a cama pelo meu pai. Lembro-me de começar a comer o bollycao pelas pontas para ficar com a parte do chocolate para o fim. Lembro-me das poucas manhãs em que me enfiei na cama dos meus pais. (É que mesmo aos fins-de-semana eles despertavam cedo). Lembro-me de trincar a pastelaria fresca com riscas e daquele creme de chocolate me pintar os lábios. Lembro-me dos mergulhos em família até ao sol se pôr. Lembro-me de ser acordada pelos sobrinhos e de ficarmos os três na cama gigante dos avós. Lembro-me de querer dormir e de ter de saltar com eles. Lembro-me do abraço enroscado quando o padre Mário nos declarou marido e mulher. Lembro-me da última colher de nutella. Aquela que enviamos no frasco depois de já termos comido o pão. Lembro-me da satisfação na cara da Inês quando o fazemos juntas. A boca estica até não poder mais e os nossos olhares cruzam-se, porque sabemos que isto tem tanto de delicioso como de proibido. Lembro-me de muito mais. De coisas que me fazem adorar o mundo. Coisas que me fazem sentir melhor. Mas acho que o meu mundo ganhou uma nova dimensão. E acho que a dimensão de “melhor” mudou. Fiz uma descoberta. Acho que descobri a melhor coisa do mundo. Demorei. Zanguei-me por não o estar a sentir. Achava que seria imediato. Não foi. Percebi que era normal. Fizeram-me perceber que era normal. Agora percebo. É que a melhor coisa do mundo não me dá tempo para escrever. Tem dias que não me deixa despir o pijama. Normalmente faz-me comer a correr. É que a melhor coisa do mundo é um despertador. Daqueles que nunca falha. Mas capaz de desorganizar qualquer agenda. É que a melhor coisa do mundo tem umas unhas que crescem a cada cinco minutos. E arranham-me quando luta contra o sono. É que a melhor coisa do mundo faz-me descer e subir degraus até doerem os gémeos. E se for preciso abre os olhos quando alcanço o último degrau em direção ao berço. É que a melhor coisa do mundo deixa-me feliz quando faz cocó. Mesmo quando esse cocó me atinge. AH! E dá 10-0 ao pai quando arrota. Se fosse ele eu chamava-lhe porco mas é a melhor coisa do mundo e eu acho graça. A melhor coisa do mundo às vezes quer deixar a mama sem abrir a boca. E consegue. Arrepia, não arrepia? Mas é a melhor coisa do mundo. Tem uma pele macia e um cheiro que tem tanto de bom como de inexplicável. Tem um íman que não me deixa parar de a beijar. Tem uns lábios carnudos que apetece morder e que abrem e fecham na tentativa de nos imitar. Tem um sorriso que se abre quando lhe tiro macacos do nariz com o cotonete. Tem um peso pluma que nos faz esquecer as dores nos braços e nas costas. A melhor coisa do mundo quer-se bem apertadinha! E a falar. Ela não sabe mas já soletra a palavra “amor”. É essa que oiço sempre que palra comigo. É por isso que hoje não me calo. Passei a ser faladora. Também passei a cantar. A melhor coisa do mundo gosta, imaginem! A melhor coisa do mundo tem um olhar que me segue. E nessa perseguição eu quero sentir que sou para ela a melhor coisa do mundo. Que irei ser durante algum tempo. Eu e o pai. Quero que, tal como eu, adore este mundo. Usufrua dele e me deixe fazer parte. Vou-lhe dar tempo. Afinal, a melhor coisa do mundo não é imediata como pintar os lábios de chocolate. Vou deixar que ela me descubra, tal como eu precisei de tempo para a descobrir. 

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